Para chegar à Quinta do Pôpa é importante terem carro. Algumas quintas são acessíveis através do comboio, mas não é o caso aqui.

O que não é necessariamente mau, pois tive o privilégio de conduzir pela famosa estrada N-222, considerada em 2015 a estrada mais bonita do mundo 😊

Estende-se do Pinhão à Régua ao longo do rio Douro e das históricas vinhas plantadas em socalcos. Diria que é cenário de filme!

Com uma boa música a passar na rádio e uma companhia especial sentada no banco do lado, este percurso faz-nos sentir uns sortudos!

O espírito Pôpa sente-se desde o momento que atravessamos o portão e começamos a subir a estrada ladeada por vinhas. “Não alimentar as vinhas” ou “silêncio que há vinhas velhas a descansar” foram placas que me fizeram rir ao longo da subida.

Mas o melhor mesmo foi quando finalmente cheguei ao topo e percebi o que sempre me tinham falado sobre a impressionante vista da Quinta do Pôpa:

Vanessa recebeu-nos com um misto de hospitalidade alentejana, bairradina e portuense. Ela própria diz ser difícil identificar-se pois ao longo da vida passou por diferentes cidades, diferentes casas e concentra em si o melhor de cada uma delas.

E foi mesmo com os olhos postos nesta paisagem que Vanessa nos contou como tudo começou. Pôpa, como na região carinhosamente tratavam o Sr. Ferreira, era o avô dos irmãos Vanessa e Stéphane.

Sempre de fato aprumado e pôpa impecavelmente penteada, o avô sonhava um dia ter o seu pedacinho de Douro. Esse sonho foi transportado para o filho que acabou por o concretizar em 2003, com a compra da quinta em Tabuaço.

O que começou por ser uma produção de vinho caseira e sem pretensões, rapidamente cresceu! Apadrinhada por Luis Pato – amigo da família que acreditou no potencial dos vinhos desta quinta – em 2010 a geração seguinte transforma a Quinta do Pôpa num dos mais recentes casos de sucesso no Douro!

A visita seguiu pela adega de vinificação, com uma interessante explicação de todo o processo para quem visita uma adega pela primeira vez. É ali que se transformam as uvas dos 14 hectares de vinha, dos quais uma vinha velha com cerca de 86 anos (respeito!).

Já na sala de barricas descobri algo mais sobre os irmãos Ferreira: a sua colecção de relógios e a relação que têm com o Tempo. No Pôpa tudo acontece a seu tempo, nada se apressa. Por mais que as ideias fervilhem nas cabeças criativas de Vanessa e Stéphane, há que esperar pelo momento certo para as concretizar.

Ainda debaixo de terra, entrei na biblioteca, uma sala onde ficam guardados exemplares de todos os vinhos produzidos na quinta.

Uma das paredes deste “cofre” é de xisto bruto, o mesmo xisto em que as vinhas do Douro são plantadas e, com uma força inexplicável, perfuram com as suas raízes, lutando pela vida durante largos anos!

Na Sala-museu – também ela escavada xisto adentro – estão expostos alguns artefactos agrícolas que explicam a dureza da viticultura no Douro que, apesar dos muitos avanços, continua a ser um grande desafio para os produtores vindima após vindima.

Como habitual, a visita terminou com uma prova de vinhos na varanda lá fora. A sugestão da Vanessa foi Black Edition branco e tinto, vinhos produzidos maioritariamente a partir das vinhas velhas, com mínima utilização de madeira, que expressam o grande potencial dos solos da quinta.

Black Edition branco – o Arinto aqui sobressai entre as diversas outras castas da vinha velha. A maturidade das uvas atribui ao vinho aromas cítricos, mas com uma boa cremosidade na boca. Madeira muito leve e discreta. Um vinho guloso que combina bem com queijos amanteigados.

Black Edition tinto – no nariz pareceu-me um vinho tímido, frutado, alguma madeira, mas após uns minutos cresceu e na boca revelou-se muito elegante, com sabores de cereja e menta. Um excelente vinho: honesto, genuíno e directo (um pouco como eu, acho!)

E foi mesmo o Black Edition tinto que escolhemos para acompanhar o fantástico picnic que a equipa da Quinta do Pôpa nos preparou. Um cesto de verga recheado com coisas deliciosas: tábua de queijos e enchidos, azeitonas e o seu azeite, chouriços e marmelada, rissóis de camarão e pataniscas de bacalhau, bola de carnes e pãozinho caseiro….. yummy!!!

E ali fiquei sentada na relva ao fim da tarde, a comer, a beber e a desfrutar a vista para o rio Douro. Que mais podia pedir? 😉


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